A duas das espécies de carvalhos autóctones portuguesas - o carvalho-negral e o carvalho-de-monchique - foram-lhes atribuídos nomes científicos bastante curiosos, respetivamente, Quercus pyrenaica e Quercus canariensis.
Ao primeiro, Quercus pyrenaica, associamos que seja abundante nos Pirenéus, e o nome do segundo, Quercus canariensis, leva-nos numa "viagem" até às ilhas Canárias.
Pois nem uma coisa nem outra está correta. Apesar do carvalho-negral ser uma árvore comum em zonas montanhosas do centro e norte da Península Ibérica, a sua presença nos Pirenéus é muito escassa. Quanto ao carvalho-de-monchique, nem sequer ocorre naturalmente no referido arquipélago.
Então, de onde vêm estas confusões? A resposta é relativamente simples... vamos desvendar os "culpados".
Carvalho-negral (Quercus pyrenaica)
O nome científico do carvalho-negral foi atribuído pelo botânico alemão Carl Ludwing von Willdenow em 1805 e por isso a correta designação é Quercus pyrenaica Willd. (1805).
No entanto, este botânico não se baseou em observações desta espécie na natureza, mas apenas a partir de exemplares secos de herbário que (não sabemos porquê) lhe chegaram, provavelmente com muitos outros exemplares de outras espécies, com um etiqueta que referia a proveniência Pirenéus, sendo essa a muito provável origem desta confusão.
Na literatura científica, o carvalho-negral surge também com uma designação mais antiga - Quercus toza Bosc - mas este nome nunca foi publicado de um modo válido, tendo sido utilizado inicialmente num trabalho relativo ao surgimento dos "bugalhos" nesta espécie. Ainda assim, é este o nome que consta na grande obra "Flora de Portugal" de António Xavier Pereira Coutinho.
Imagem obtida de "oportunityleiloes"
Porque terá sido sugerido o nome "toza" para o carvalho-negral?
Apesar de não teremos sido capazes de encontrar nenhuma referência à origem desta designação, pusemos "mãos-à-obra" e encontramos o seguinte no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa:
"tosa": Ação de cortar rente.
"tosar" (do latim tonsare): Cortar a rama das árvores, arbustos ou quaisquer plantas.
Imagem obtida de "custojusto"
Realmente, uma das caraterísticas marcantes do carvalho-negral é a sua enorme capacidade de regeneração após o corte. Provavelmente, talvez seja esta a origem de "toza".
Quanto à atribuição do nome Quercus canariensis para o carvalho-de-monchique...ficará para o próximo post.
Nome científico: Quercus pyrenaica Willd. (1805)
Sinónimos: Quercus toza
Nomes comuns: Carvalho-negral, carvalho-pardo-das-beiras, carvalho-da-beira, carvalho-pardo-do minho (português)*;
Nomes comuns: Carvalho-negral, carvalho-pardo-das-beiras, carvalho-da-beira, carvalho-pardo-do minho (português)*;
Melojo, marojo, roble negro, roble negral, rebollo, curco villano, tocio, tozo (castelhano);
Carballo negro, cerqueiro, cerquiño (galego);
Reboll, roure reboll (catalão);
Ametza, ametz arrunta (basco).
* Apesar de não existir na bibliografia, já ouvimos a designação "carvalho-ferral". Numa rua de uma aldeia do concelho de Penamacor - Meimoa - existe a toponímia "Rua do carvalho ferral".
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