quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O manifesto da bolota (III) - a regressão dos carvalhais

Atualmente, a destruição das florestas tropicais encontra-se a um ritmo avassalador, com consequências dramáticas sobejamente conhecidas. Por estranho que nos possa parecer, fenómeno semelhante ocorreu na Europa central e do sul, e ao longo da parte meridional da América do Norte. As civilizações ocidentais, onde se encontram os países mais ricos e desenvolvidos, edificaram-se em zonas outrora ocupadas por florestas em que a maioria das espécies se reproduzia a partir da germinação de uma semente muito particular, a bolota. Estes carvalhais, quer fossem de folha caduca ou persistente, atingissem porte arbóreo acentuado ou não ultrapassassem o tamanho de um arbusto, dominavam a maioria destas regiões. E hoje, o que sobrou desses ecossistemas? Apesar da velocidade da regressão destes biomas não ser comparável ao ritmo da desflorestação observada nos trópicos, a redução total de área dos bosques e florestas das regiões temperadas é muito, mas mesmo muito superior ao ponto de que os poucos carvalhais existentes não serem ecossistemas naturais, pois de alguma forma já sofreram intervenção do Homem.


A interferência humana nos carvalhais primitivos já ocorreu, e este facto é irreversível. Mas não se pense que a ocupação antrópica é necessariamente um fator negativo para os ecossistemas. Os montados, onde o sobreiro e a azinheira dominam, são um dos melhores exemplos em que árvores, sustentabilidade ambiental e atividades humanas se conjugam quase na perfeição. No entanto, a inexistência de carvalhais naturais não deixa de ser revelador da extensão da intervenção humana. Do mesmo modo, também só o Homem poderá inverter, ou pelo menos, compensar parcialmente o seu impacto na natureza e permitir que os carvalhais autóctones recuperem um pouco da sua extensão original. Os benefícios diretos no ambiente, tais como o aumento da biodiversidade, melhores recursos hídricos, a recuperação dos solos, a diminuição do aquecimento global, da poluição atmosférica e do risco de incêndio são algumas consequências diretas extremamente benéficas para nós. Basta apenas que cresçam mais carvalhos.

Todos os carvalhos se desenvolvem a partir de uma bolota. É da germinação de muitas destas sementes que se formam os carvalhais. Se queremos participar na conservação da natureza, necessitamos de recuperá-los. Basta para isso semearmos bolotas. Simples, não é? Bastaria apenas um dia por ano em que recolhêssemos e semeássemos bolotas de espécies autóctones, diretamente no campo, ou as levássemos para casa e as colocássemos em vasos. No ano seguinte teríamos carvalhos para plantar.


Os diferentes biomas que constituem a biosfera encontram-se interligados e interdependentes. A melhoria num dos seus componentes tem efeitos positivos e multiplicativos em todos os outros. O inverso também acontece. Apesar da grande capacidade regenerativa da natureza, os equilíbrios naturais globais encontram-se interligados, de um modo que a ciência ainda não conseguiu desvendar a sua total complexidade. Os carvalhos não existem em todos os continentes. Apenas no hemisfério norte, essencialmente em regiões temperadas e mediterrâneas, é que ocorrem naturalmente as plantas do género Quercus sp. Contudo, uma parte significativa da população mundial vive nestes locais. Para muitos, é aí que nós vivemos, e é aí que a nossa ação pode ser decisiva e é aí que podemos fazer algo para nós, por nós e pelos nossos, os de hoje e os de amanhã. E quase que basta apenas um dia. Um dia em que a nossa insignificante ação local, na força que a união faz, seja um dia verdadeiramente mundial. Esse dia pode ser qualquer um… mas também pode ter data marcada. Vamos fazer do dia 10 de novembro um dia de contributo para o nosso mundo. Vamos transformá-lo no Dia Mundial da Bolota.

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