sexta-feira, 27 de abril de 2012

As bolotas demoram a germinar... e são um pouco "envergonhadas"

O despontar da parte aérea resultante da germinação de uma bolota é, frequentemente, muito lenta. A exposição solar, o teor em água no solo, a temperatura, a profundidade a que a semente se encontra, entre outros fatores, poderão influenciar o tempo que as primeiras folhas demoram a "espreitar" à superfície.

Este ano a germinação das nossas sementes tem sido mais lenta que em anos anteriores. Mas a paciência deve ser o ambiente que envolve o desenvolvimento de espécies de crescimento lento, como são os carvalhos. Por expêriencia própria sabemos que algumas bolotas só dão sinais de germinação em Junho!!! Há que saber esperar...

Mas não pensem que a vida debaixo do solo é monótona. Quando surgem os primeiros tecidos fotossintéticos de uma bolota já há muito a raíz iniciou o seu desenvolvimento.

Por estes dias dissecámos um dos nossos "bolotinhos" em que aparentemente nada se passava, ou seja, não havia qualquer indício do desenvolvimento da semente.

Olhando de cima para este "bolotinho" ficamos um pouco desapontados... as bolotas parecem ter desistido de germinar!

Mas se procurármos melhor, e como o recipiente é transparente, por vezes é possivel observar a raíz se olharmos lateralmente.

Afinal há vida no solo!

Com muito cuidado retirámos alguma da terra que se encontrava mais acima (é um procedimento que se deve evitar pois corre-se o risco de danificar irreversivelmente a germinação da bolota).

Surpreendidos???
A parte aérea desta bolota já se encontra em crescimento. Não era visivel à superfície devido à profundidade a que foi colocada. Mas cá está ela!!!

Retirámos a planta totalmente do recipiente. Reparem no comprimento da raíz.

A raíz já está tão desenvolvida que por não ter mais espaço para crescer em profundidade começou a enrolar-se no fundo do "bolotinho".

As bolotas parecem ser um pouco "envergonhadas". Saibamos esperar.

ATENÇÂO: continuem a regar todos os vasos. Esta demonstração deve ser evitada (ou então utilizem apenas um vaso) pois este procedimento pode danificar o pequeno carvalhito. No caso de a realizarem, coloquem a bolota novamente num vaso e reguem abundantemente de modo a evitar a desidratação da raíz.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A influência do clima na germinação das bolotas

As condições ambientais provocam ritmos de germinação distintos. Esta dedução empírica tem agora uma expressão mais tangível visto que a ligação entre três bolotários distintos nos permitiu realizar essa verificação.

Bolotário da E. B. Álvaro Velho - Lavradio, Barreiro
(um blog muito bom para se seguir: http://alvarovelho.net/cefjard/)

Na E. B. Álvaro Velho as bolotas de sobreiro e carvalho-cerquinho já germinaram. A parte aérea dos sobreiros despontou logo em janeiro enquanto que a dos restantes carvalhos surgiu mais tarde, em fevereiro e março. As temperaturas mais amenas do concelho do Barreiro deverão ter estado na origem deste desenvolvimento mais precoce. Os sobreiros do bolotário da Covilhã continuam sem dar sinais de vivacidade. Esperam, certamente, pelas tempearturas mais favoráveis dos dias primaveris, reservando-se para uma época em que a possibilidade de geada seja nula.

Bolotário da E.E.B. João Franco - Fundão

 
Na nossa escola temos algumas sementes a germinar no interior do edificio. Mas estas bolotas de carvalho-negral não foram colocadas aí imediatamente após a sua colheita. A sua sementeira foi tardia, tendo passado algum tempo no frigorífico. Em mais de quarenta vasos só observamos a germinação em dois. No bolotário da E.E.B. João Franco os acontecimentos têm sido bem mais empolgantes. Logo no final de janeiro os pequenos carvalhos-negrais começaram a despontar. A sala onde estavam, descrita como "muito solarenga e quentinha", terá certamente ajudado na rápida germinação, assim como os atentos cuidados que as bolotas receberam.
Bolotário "interior" da E.S. Quinta das Palmeiras - Covilhã

A Covilhã e o Fundão são localidades muito próximas, sem diferenças climatéricas significativas. As variações no ritmo da germinação estarão, muito provavelmente, relacionadas com o tempo de exposição das bolotas às baixas temperaturas que terão sido responsáveis pelo atraso no despontar das primeiras folhas.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A influência da altitude no desenvolvimento dos órgãos dos carvalhos-negrais

O carvalho-negral é uma árvore de altitude. É raro abaixo dos 400m. O seu nome científico, Quercus pyrenaica, reflete a visão que o classificador, o botânico  alemão Karl Ludwing von Willdenow, tinha desta espécie. Devido à ocorrência desta espécie nessa cordilheira montanhosa, nas suas descrições refere que este carvalho "Habitat in Pyrenaeis" .



Carvalhos-negrais a cerca de 950m de altitude.
Na maioria dos indivíduos ainda não há sinais do desenvolvimento das primeiras folhas.

Não obstante da apetência do carvalho-negral pelas altitudes elevadas - na Peninsula Ibérica pode encontrar-se acima dos 2000m - o desenvolvimento das primeiras folhas e das estruturas reprodutoras é mais tardio por lá. Provavelmente, o principal fator associado à altitude são as baixas temperaturas que adiam o despontar destes órgãos.



Carvalhos-negrais a cerca de 600m de altitude.
As primeiras folhas já se encontram bem desenvolvidas em quase todos os indivíduos...

 ... assim como as primeiras inflorescências.

No mesmo dia tivemos a oportunidade de percorrer uma encosta com vários núcleos de carvalhos-negrais. As árvores com as copas mais frondosas ocorriam sobretudo a menor altitude enquanto que mais acima a maioria teimava em não libertar as folhas secas do ano anterior. Essas cairão definitivamente assim que despontarem as novas.


Giesta-branca (Cytisus multiflorus) - arbusto muito comum em zonas de distribuição natural do carvalho-negral e da azinheira. Em altitudes menores, muitos individuos exibem todas as suas flores. Esta giesta, a cerca de 950m, era a única que já apresentava alguma floração.

Este efeito da altitude, ao qual provavelmente está associada a temperatura, não afeta exclusivamente o carvalho-negral. Experimentem observar, num dia que façam uma viagem, as diferenças na floração das urzes, das estevas e das giestas ou as copas dos carvalhos, castanheiros e freixos. É um padrão que se repete. Quando já não encontrarem uma flor subam uma serra... pode ser que ainda vão a tempo!