segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Um carvalho "pirenaico" que é escasso nos Pirenéus... porque será?

A duas das espécies de carvalhos autóctones portuguesas - o carvalho-negral e o carvalho-de-monchique - foram-lhes atribuídos nomes científicos bastante curiosos, respetivamente, Quercus pyrenaica e Quercus canariensis

Ao primeiro, Quercus pyrenaica, associamos que seja abundante nos Pirenéus, e o nome do segundo, Quercus canariensis, leva-nos numa "viagem" até às ilhas Canárias.

Pois nem uma coisa nem outra está correta. Apesar do carvalho-negral ser uma árvore comum em zonas montanhosas do centro e norte da Península Ibérica, a sua presença nos Pirenéus é muito escassa. Quanto ao carvalho-de-monchique, nem sequer ocorre naturalmente no referido arquipélago.

Então, de onde vêm estas confusões? A resposta é relativamente simples... vamos desvendar os "culpados".

Carvalho-negral (Quercus pyrenaica

O nome científico do carvalho-negral foi atribuído pelo botânico alemão Carl Ludwing von Willdenow em 1805 e por isso a correta designação é Quercus pyrenaica Willd. (1805).

No entanto, este botânico não se baseou em observações desta espécie na natureza, mas apenas a partir de exemplares secos de herbário que (não sabemos porquê) lhe chegaram, provavelmente com muitos outros exemplares de outras espécies, com um etiqueta que referia a proveniência Pirenéus, sendo essa a muito provável origem desta confusão.

Na literatura científica, o carvalho-negral surge também com uma designação mais antiga - Quercus toza Bosc - mas este nome nunca foi publicado de um modo válido, tendo sido utilizado inicialmente num trabalho relativo ao surgimento dos "bugalhos" nesta espécie. Ainda assim, é este o nome que consta na grande obra "Flora de Portugal" de António Xavier Pereira Coutinho.

Imagem obtida de "oportunityleiloes"

Porque terá sido sugerido o nome "toza" para o carvalho-negral?

Apesar de não teremos sido capazes de encontrar nenhuma referência à origem desta designação, pusemos "mãos-à-obra" e encontramos o seguinte no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa:

"tosa": Ação de cortar rente.
"tosar" (do latim tonsare): Cortar a rama das árvores, arbustos ou quaisquer plantas.

Imagem obtida de "custojusto"

Realmente, uma das caraterísticas marcantes do carvalho-negral é a sua enorme capacidade de regeneração após o corte. Provavelmente, talvez seja esta a origem de "toza".

Quanto à atribuição do nome Quercus canariensis para o carvalho-de-monchique...ficará para o próximo post

Folhas e bolota de carvalho-negral

Nome científico: Quercus pyrenaica Willd. (1805)
Sinónimos: Quercus toza

Nomes comuns: Carvalho-negral, carvalho-pardo-das-beiras, carvalho-da-beira, carvalho-pardo-do minho (português)*;
    Melojo, marojo, roble negro, roble negral, rebollo, curco villano, tocio, tozo (castelhano);
    Carballo negro, cerqueiro, cerquiño (galego);
    Reboll, roure reboll (catalão);
    Ametza, ametz arrunta (basco).

* Apesar de não existir na bibliografia, já ouvimos a designação "carvalho-ferral". Numa rua de uma aldeia do concelho de Penamacor - Meimoa - existe a toponímia "Rua do carvalho ferral".

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